Vitamina C

Vitamina C

O ácido ascórbico (C6H8O6), outro nome para a vitamina C, é um nutriente essencial diretamente relacionado ao reparo de tecidos e a produção enzimática de diversos neurotransmissores e hormônios. A sua principal função é a hidroxilação do colágeno, a proteína fibrilar que dá resistência aos ossos, dentes, tendões e paredes dos vasos sanguíneos. Além disso, é um poderoso antioxidante, sendo usado para transformar as espécies reativas de oxigênio, incluindo radicais livres, em formas inertes.

SETE BENEFÍCIOS DA VITAMINA C

Benefícios comprovados:

1 - Redução de doenças crônicas

Reduz os processos inflamatórios e protege as células da ação de radicais livres (estresse oxidativo). Essa proteção deve-se a um aumento de até 30% nos níveis de antioxidantes na corrente sanguínea perante uma ingestão adequada vitamina C.

2 - Controle da pressão arterial

A suplementação de vitamina C em 29 estudos realizados em humanos indicou uma redução média de 3,8 mmHg na pressão sistólica e 1,5 mmHg na diastólica. Em adultos com pressão alta, a redução média foi de 4,9 mmHg (sistólica) e 1,5 mmHg (diastólica), respectivamente.

3 - Redução de ataques cardíacos

Muitos fatores podem ocasionar um ataque cardíaco, tais como: pressão alta, baixos valores de HDL e altos valores de triglicerídeos e LDL (perfil lipídico). Um combinado de 9 estudos com mais de 293.000 participantes, que após 10 anos de uma suplementação acima de 700 mmg/dia, tiveram 25% a menos de risco de sofrer um ataque cardíaco. Outra metanálise de 13 estudos com 500 mg/dia indica uma redução significativa dos níveis de colesterol (LDL -7,9 mg/dl ) e triglicerídeos (-20,1 mg/dl).

4 - Redução dos níveis de ácido úrico na corrente sanguínea e sintomas da “Gota”

A Gota é uma forma de artrite que aflige cerca de 4% dos norte-americanos e 1-2% nos demais países desenvolvidos, e está diretamente relacionada aos níveis de ácido úrico no sangue. O resultado são inflamações nas juntas, especialmente nos dedões dos pés, inchaço e severos ataques de dor. Os principais estudos indicam que doses acima de 300 mg/dia reduziram drasticamente os níveis de ácido úrico e a percepção dos sintomas.

5 - Previne a deficiência de ferro

O ferro é um nutriente que participa em diversas reações dentro do organismo humano e está diretamente ligado ao alto desempenho, principalmente no transporte de oxigênio. A fonte dietética mais comum de ferro são as carnes vermelhas, lentilha, feijão, carne branca e a salada verde. Entretanto, as fontes vegetais são difíceis de absorver e podem ser significativamente beneficiadas (+67%) com a ingestão de 100 mg/dia. Um estudo com 65 crianças com anemia demonstrou uma melhora significativa, unicamente, com a suplementação de vitamina C.

6 - Aumenta a imunidade

A vitamina C atua diretamente no combate a agentes infeciosos, trabalhando em duas vias. A primeira na pele, favorecendo a cicatrização, saúde, aparência e na defesa contra a entrada de agentes infeciosos. A segunda, em todo corpo, produzindo células brancas (ex: leucócitos e fagócitos) e no combate a radicais livres. Alguns estudos relacionam casos de pneumonia a baixa ingestão da vitamina e o tratamento através da suplementação reduzindo consideravelmente o tempo de melhora.

7 - Protege a memória e capacidade metal

A demência é um termo genérico utilizado para descrever a deficiência, principalmente em adultos, na capacidade de raciocínio e memória, e estima-se que mais de 35 milhões de pessoas são afetadas em todo mundo. Estudos sugerem que processos inflamatórios e estresse oxidativo no sistema nervoso central (ex: cérebro, nervos e coluna espinhal) podem aumentar o risco de demência. Outros estudos relacionam casos de demência, dificuldade cognitiva e perda de memória a baixos níveis de vitamina C. Dietas ricas em ácido ascórbico mostraram efeito protetor no sistema nervoso central ao longo processo natural de envelhecimento.

O QUE A VITAMINA C NÃO FAZ:

Não há comprovação científica que:

  • Previne a gripe: apenas reduz a severidade dos sintomas e o tempo de recuperação em cerca de 8% de adultos e 14% em crianças. Não previne a gripe!
  • Reduz o risco de câncer: a maioria dos estudos não relaciona a redução do risco.
  • Protege doenças oculares: apesar de alguns estudos relacionarem a redução do risco de cataratas e doenças maculares, o uso de suplementos de vitamina C não mostrou diferença significativa.
  • Envenenamento por chumbo: não há evidencias conclusivas.

DOSE

A ingestão diária deve ser contabilizada como a soma de todas as fontes, incluindo frutas, verduras, suplementos e alimentos enriquecidos com vitamina C. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda 45 mg/dia, entretanto diversas Agências de Saúde recomendam doses significantemente maiores, tais como:

  • European Food Safety Authority (UE): 110 mg/dia (homens) e 95 mg/dia (mulheres);
  • Ministry of Health, Labour, and Welfare of Japan (JAP): 100 mg/dia;
  • United States National Academy of Sciences (USA): 90 mg/dia (homens) e 75 mg/dia (mulheres); e
  • Associação Brasileira de Nutrologia (BRA): 90 mg/dia (homens) e 75 mg/dia (mulheres).

Sabe-se que o ácido ascórbico, por ser uma vitamina hidrossolúvel, deve ser ingerida diariamente e seu excesso é excretado pela urina. Doses altas devem ser fracionadas ao longo do dia para a melhor absorção. Estudos sugerem uma redução na absorção de 49,5% para uma dose oral de 1,5 g, a 16,1%, para uma dose de 12 g.

Quadro 1: Concentração de Vitamina C (mg/100g) nos principais alimentos na dieta brasileira

Fontes Naturais

É importante ressaltar que tais concentrações podem variar conforme o solo, variedade e estágio de maturação. O cozimento reduz significativamente a concentração. A dose ideal, como de qualquer nutriente, varia conforme as características metabólicas do paciente, entretanto, a literatura mostra um consumo seguro de 500-2000 mg/dia, em que, quanto maior o desgaste físico, maior a ingestão. Todavia, um estudo publicado em 2012 indica que doses acima de 1000 mg/dia podem até reduzir a performance em atividades esportivas, mas também, sugere que doses fracionadas ao longo do dia, totalizando no máximo 1000 mg/dia melhoraram diversos aspectos da saúde sem reduzir o desempenho esportivo dos pacientes.

EFEITOS ADVERSOS

Vitaminas hidrossolúveis produzem poucos efeitos adversos, pois o excesso de dose é excretado pela urina. Porém, 2.000 mg/dia de ácido ascórbico, durante 6 dias, aumentaram o risco de cálculo de oxalato de cálcio (Tiselius Risk Index) em 40%. Risco que pode mitigado, em pessoas saudáveis, com a ingestão adequada de água. Deve ser administrada sob cautela em gestantes, recém-nascidos, pacientes com dieta restrita de sódio, portadores de cálculos renais recorrentes ou sob terapia de anticoagulantes. Concentrações acima de 50 mg/dl na urina podem acusar falso negativos em exames de urina.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Kim MK, Sasazuki S, Sasaki S, Okubo S, Hayashi M, Tsugane S. Effect of five-year supplementation of vitamin C on serum vitamin C concentration and consumption of vegetables and fruits in middle-aged Japanese: a randomized controlled trial. J Am Coll Nutr. 2003;22(3):208-216. doi:10.1080/07315724.2003.10719295
  2. Popovic LM, Mitic NR, Miric D, Bisevac B, Miric M, Popovic B. Influence of Vitamin C Supplementation on Oxidative Stress and Neutrophil Inflammatory Response in Acute and Regular Exercise. Ayala A, ed. Oxid Med Cell Longev. 2015;2015:295497. doi:10.1155/2015/295497
  3. Pham-Huy LA, He H, Pham-Huy C. Free radicals, antioxidants in disease and health. Int J Biomed Sci. 2008;4(2):89-96.
  4. Juraschek SP, Guallar E, Appel LJ, Miller ER 3rd. Effects of vitamin C supplementation on blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled trials. Am J Clin Nutr. 2012;95(5):1079-1088. doi:10.3945/ajcn.111.027995
  5. Knekt P, Ritz J, Pereira MA, et al. Antioxidant vitamins and coronary heart disease risk: a pooled analysis of 9 cohorts. Am J Clin Nutr. 2004;80(6):1508-1520. doi:10.1093/ajcn/80.6.1508
  6. McRae MP. Vitamin C supplementation lowers serum low-density lipoprotein cholesterol and triglycerides: a meta-analysis of 13 randomized controlled trials. J Chiropr Med. 2008;7(2):48-58. doi:10.1016/j.jcme.2008.01.002
  7. Zhu Y, Pandya BJ, Choi HK. Prevalence of gout and hyperuricemia in the US general population: the National Health and Nutrition Examination Survey 2007-2008. Arthritis Rheum. 2011;63(10):3136-3141. doi:10.1002/art.30520
  8. Richette P, Bardin T. Gout. Lancet (London, England). 2010;375(9711):318-328. doi:10.1016/S0140-6736(09)60883-7
  9. Roddy E. Revisiting the pathogenesis of podagra: why does gout target the foot? J Foot Ankle Res. 2011;4(1):13. doi:10.1186/1757-1146-4-13
  10. Juraschek SP, Miller ER 3rd, Gelber AC. Effect of oral vitamin C supplementation on serum uric acid: a meta-analysis of randomized controlled trials. Arthritis Care Res (Hoboken). 2011;63(9):1295-1306. doi:10.1002/acr.20519
  11. Choi HK, Gao X, Curhan G. Vitamin C intake and the risk of gout in men: a prospective study. Arch Intern Med. 2009;169(5):502-507. doi:10.1001/archinternmed.2008.606
  12. Gao X, Curhan G, Forman JP, Ascherio A, Choi HK. Vitamin C intake and serum uric acid concentration in men. J Rheumatol. 2008;35(9):1853-1858.
  13. Hallberg L, Hulthén L. Prediction of dietary iron absorption: an algorithm for calculating absorption and bioavailability of dietary iron. Am J Clin Nutr. 2000;71(5):1147-1160. doi:10.1093/ajcn/71.5.1147
  14. Mao X, Yao G. Effect of vitamin C supplementations on iron deficiency anemia in Chinese children. Biomed Environ Sci. 1992;5(2):125-129.
  15. Taylor T V, Rimmer S, Day B, Butcher J, Dymock IW. ASCORBIC ACID SUPPLEMENTATION IN THE TREATMENT OF PRESSURE-SORES. Lancet. 1974;304(7880):544-546. doi:10.1016/S0140-6736(74)91874-1
  16. Desneves KJ, Todorovic BE, Cassar A, Crowe TC. Treatment with supplementary arginine, vitamin C and zinc in patients with pressure ulcers: a randomised controlled trial. Clin Nutr. 2005;24(6):979-987. doi:10.1016/j.clnu.2005.06.011
  17. Fuchs J, Kern H. Modulation of UV-light-induced skin inflammation by d-alpha-tocopherol and l-ascorbic acid: a clinical study using solar simulated radiation. Free Radic Biol Med. 1998;25(9):1006-1012. doi:https://doi.org/10.1016/S0891-5849(98)00132-4
  18. Huijskens MJAJ, Walczak M, Koller N, et al. Technical advance: ascorbic acid induces development of double-positive T cells from human hematopoietic stem cells in the absence of stromal cells. J Leukoc Biol. 2014;96(6):1165-1175. doi:10.1189/jlb.1TA0214-121RR
  19. Hemilä H, Louhiala P. Vitamin C for preventing and treating pneumonia. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(8). doi:10.1002/14651858.CD005532.pub3
  20. Bakaev V V, Duntau AP. Ascorbic acid in blood serum of patients with pulmonary tuberculosis and pneumonia. Int J Tuberc lung Dis Off J  Int Union against Tuberc Lung Dis. 2004;8(2):263-266.
  21. Prince M, Bryce R, Albanese E, Wimo A, Ribeiro W, Ferri CP. The global prevalence of dementia: a systematic review and metaanalysis. Alzheimers Dement. 2013;9(1):63-75.e2. doi:10.1016/j.jalz.2012.11.007
  22. Bennett S, Grant MM, Aldred S. Oxidative stress in vascular dementia and Alzheimer’s disease: a common pathology. J Alzheimers Dis. 2009;17(2):245-257. doi:10.3233/JAD-2009-1041
  23. Charlton KE, Rabinowitz TL, Geffen LN, Dhansay MA. Lowered plasma vitamin C, but not vitamin E, concentrations in dementia patients. J Nutr Health Aging. 2004;8(2):99-107.
  24. von Arnim CAF, Herbolsheimer F, Nikolaus T, et al. Dietary antioxidants and dementia in a population-based case-control study among older people in South Germany. J Alzheimers Dis. 2012;31(4):717-724. doi:10.3233/JAD-2012-120634
  25. Goodwin JS, Goodwin JM, Garry PJ. Association between nutritional status and cognitive functioning in a healthy elderly population. JAMA. 1983;249(21):2917-2921.
  26. Gale CR, Martyn CN, Cooper C. Cognitive impairment and mortality in a cohort of elderly people. BMJ. 1996;312(7031):608-611. doi:10.1136/bmj.312.7031.608
  27. Zandi PP, Anthony JC, Khachaturian AS, et al. Reduced risk of Alzheimer disease in users of antioxidant vitamin supplements: the Cache County Study. Arch Neurol. 2004;61(1):82-88. doi:10.1001/archneur.61.1.82
  28. Paleologos M, Cumming RG, Lazarus R. Cohort study of vitamin C intake and cognitive impairment. Am J Epidemiol. 1998;148(1):45-50. doi:10.1093/oxfordjournals.aje.a009559
  29. Wengreen HJ, Munger RG, Corcoran CD, et al. Antioxidant intake and cognitive function of elderly men and women: the Cache County Study. J Nutr Health Aging. 2007;11(3):230-237.
  30. Hemilä H, Chalker E. Vitamin C for preventing and treating the common cold. Cochrane Database Syst Rev. 2013;(1). doi:10.1002/14651858.CD000980.pub4
  31. Lee B, Oh S-W, Myung S-K. Efficacy of Vitamin C Supplements in Prevention of Cancer: A Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials. Korean J Fam Med. 2015;36(6):278-285. doi:10.4082/kjfm.2015.36.6.278
  32. Rautiainen S, Lindblad BE, Morgenstern R, Wolk A. Vitamin C supplements and the risk of age-related cataract: a population-based prospective cohort study in women. Am J Clin Nutr. 2010;91(2):487-493. doi:10.3945/ajcn.2009.28528
  33. Evans JR, Lawrenson JG. Antioxidant vitamin and mineral supplements for preventing age-related macular degeneration. Cochrane database Syst Rev. 2017;7(7):CD000253. doi:10.1002/14651858.CD000253.pub4
  34. Mathew MC, Ervin A-M, Tao J, Davis RM. Antioxidant vitamin supplementation for preventing and slowing the progression of age-related cataract. Cochrane database Syst Rev. 2012;6(6):CD004567. doi:10.1002/14651858.CD004567.pub2
  35. Ghanwat G, Patil AJ, Patil J, Kshirsagar M, Sontakke A, Ayachit RK. Effect of Vitamin C Supplementation on Blood Lead Level, Oxidative Stress and Antioxidant Status of Battery Manufacturing Workers of Western Maharashtra, India. J Clin Diagn Res. 2016;10(4):BC08-11. doi:10.7860/JCDR/2016/15968.7528
  36. European Food Safety Authority. Overview on Dietary Reference Values for the EU Population as Derived by the EFSA Panel on Dietetic Products , Nutrition and Allergies ( NDA ). Vol 4.; 1993.
  37. Katsumi S, Tsutomu F, Eri I, Takashi H. Dietary Reference Intakes for Japanese 2010 : Water-Soluble Vitamins. J Nutr Sci Vitaminol. 2013;59:S67-S82.
  38. Institute of Medicine 2000. Dietary Reference Intakes for Vitamin C, Vitamin E, Selenium, and Carotenoids. National Academies Press; 2000. doi:10.17226/9810
  39. Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Posicionamento da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) a respeito de micronutrientes e probióticos na infecção por COVID-19. Published 2020. Accessed August 17, 2020. https://abran.org.br/2020/05/01/posicionamento-da-associacao-brasileira-de-nutrologia-abran-a-respeito-de-micronutrientes-e-probioticos-na-infeccao-por-covid-19/
  40. Guilland JC, Lequeu B. As Vitaminas Do Nutriente Ao Medicamento. Editora Santos; 1995.
  41. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (NEPA). Tabela Brasileira de Composição de Alimentos. 4a edição. (Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação – NEPA UE de C– U, ed.). NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMENTAÇÃO – NEPA; 2011.
  42. Braakhuis AJ. Effect of vitamin C supplements on physical performance. Curr Sports Med Rep. 2012;11(4):180-184. doi:10.1249/JSR.0b013e31825e19cd
  43. Fucks FD, Wannmacher L. Farmacologia Clínica: Fundamentos Da Terapêutica Racional. 4a ed. Guanabara Koogan; 2010.
  44. Klasco R. DrugPoint®. Thomson MICROMEDEX; 2002.
  45. Costa JMF, Mendes ME, Sumita NM. Avaliação da interferência do ácido ascórbico na detecção da glicosúria. J Bras Patol e Med Lab. 2012;48(1):11-14. doi:10.1590/S1676-24442012000100003
Rolar para cima